quinta-feira, 12 de outubro de 2023

Pão de Queijo

De uma vivência bonita de vida, ela é cheia de sonhos. E a sua essência, desde de quando nem se entendia por gente, sempre foi a mesma: bondosa, caridosa, divertida, sorridente, amiga, cheia de paixões. Algumas vezes do seu dia se questiona o porquê de não estar fazendo aquilo ali acolá, pois lembra de todos os seus anseios, qualidades e qualificações. Fica inquieta, apesar do seu controle e autocuidado, quem a conhece sabe que é inquieta. Ela merece mais, ela pensa e sabe que é verdade. E sempre merece. De um encantamento com a vida criada através de uma infância saudável, educação estrita mas amorosa e recheada de animações que frequentemente mostrava que o bom sempre vencia o mal, ela construiu seu caráter e frequentemente tem desilusões de que o mundo não era aquelas mil maravilhas que ela acreditava ser. Há coisas que não podem ser feitas, há pessoas que não são legais, há caminhos que são dolorosos e tortuosos, há gente que vive com muita dor. Sua crença na humanidade aos poucos foi se desvaindo e ficando mais focada nos animais. Afinal, eles sim vivem com amor, a gente não. 

E vem mais uma inquietação.

quarta-feira, 9 de agosto de 2023

Meias Argolas

Para quem vem de outras eras, este ano é 2023, início ainda do novo milênio, época da revolução da informação, da presença das desigualdades e dos corpos ansiosos. 

Uma das maiores praticidades dos últimos tempos foi a criação do que chamamos de delivery ou compra online. Na verdade, nem é tão novo assim, nos meus 30 e poucos anos, já deve fazer uns 15 ou 20 que isso acontece. Só que agora é com muita mais intensidade.

Uma espécie de "vou fazer compras" só que não saio de casa. Dentro de todo meu privilégio social, eu pego meu aparelho telefônico conectado à internet, pesquiso numa base de dados lojas que vendem o produto que quero, aperto uma série de botões e pronto. Ai fico acompanhando o status: o produto está sendo preparado, o produto foi enviado, o produto foi entregue. E, como um passe de mágica, um dinheiro que circula e a gente nem vê e uma logística absurda por trás, o produto chega na porta da minha casa, muitas vezes sem ninguém avisar. Abra-a e olho lá o meu produto envolto num plástico bolha, dentro de uma embalagem, cheio de adesivos pelos caminhos que percorreu e o seu rastreamento.

Por vezes, esse caminho é curto, vem do mesmo bairro que moro. Mas a maioria delas vem do outro lado do mundo, um país atualmente mega produtor de tudo chamado China. Deve ser bem interessante um shopping center na China. Ou será que eles também compram tudo online igual a gente? Quando o produto vem assim de longe, o prazo de entrega só Deus sabe. Umas compras chegam semana que vem, outras chegam 4 meses depois principalmente porque ficam presas na alfândega brasileira lá em Curitiba. Eles devem trabalhar muito lá em Curitiba com o brasileiro comprando. Ou talvez não trabalhem tanto e por isso que demora.

A questão é que a gente dessa era está muito mal acostumada. A gente, nós, os privilegiados como eu disse, que vivem comprando tudo assim sem ir a lugar nenhum. 

E como eu disse também, somos pessoas ansiosas. Então é o seguinte. Se é um produto simples como um artefato, uma matéria prima, um eletrodoméstico ou um eletrônico, a gente compra normalmente pra chegar amanhã, às vezes até pra hoje mesmo. Ontem mesmo comprei um instrumento musical e amanhã mesmo vai estar em casa. E ele vem de outro estado do país, olha só que maluquice.
O fato é que hoje acordei ansiosa, porque tenho um projeto a fazer no final de semana e, como estamos mal acostumados, fiz uma compra sexta-feira passada para chegar na segunda feira desta semana. Um prazo de 3 dias, de 2 dias úteis. Tava seguro. Eu estava fazendo com antecedência. Só que hoje já é quarta-feira e ainda não chegou. Perguntei no aplicativo online ao lojista o rastreamento e ele me disse que não havia rastreio ainda porque a transportadora não foi buscar o produto.

Me senti lesada e como se tivéssemos retrocedendo uns 7 anos. Reclamei que era para chegar segunda e ainda não resolveram meu problema. Meu projeto é pra daqui 3 dias. São pequenas meias argolas: "Eles não precisam de uma mega transportadora para isso!", diz minha voz interior indignada. Ora bolas.

Ai reflito que há várias soluções para este meu problema (como comprar inclusive outras argolas para chegar hoje e pedir o cancelamento dessas). E me acalmo. Outro delivery vai resolver.

quarta-feira, 9 de novembro de 2022

Eu acordei e agora?

Dormir com ansiedade é uma completa droga. A cabeça pré sono não desliga. Você está claramente cansada física e mentalmente, mas seu corpo diz: não-não, vai dormir não. E ai, como que faz?

Nestas horas eu tento de tudo. Dormir apenas fechando o olho (como sempre durmo, aliás minha vida inteira tive qualidade de sono ótima, obrigada), ai eu fico pensando um pouco nas coisas, percebo meus sintomas, ai tento respirar, meditar, bebo água. Bicho, às vezes funciona, às vezes parece que só piora tentar.

Dia desses também ansiosa eu desisti de dormir e fui fazer outras coisas. Perdi o sono, mas estava cansada. Estava cansada mas sabia que não conseguia dormir.

Cabeça acelerada é uma droga.

Ontem tive até um pesadelo quando peguei no sono, bem repentino. Acordei no pulo, tremendo, abrindo minha porta, chamando minha irmã, coração na boca. 

Só fui mesmo dormir a base do calmante que eu tinha em comprimido e foi. 

Agora eu acordei, e agora?
Como fazer do meu dia mais produtivo, gostoso e leve para que eu não chegue a noite assim, perturbada.

Acordei e agora?

O que eu faço da vida?

Estou bem exausta. E mais do que apenas exausta, estou exausta de estar exausta. Fiquei pensando agora no banho se meus pais tiveram na sua juventude períodos de ansiedade assim como eu os tenho ou se é coisa mais geracional, desses tempos, da minha bolha social ou coisa minha.

Ser ansioso é lidar o tempo inteiro com medos, falta de controle, inseguranças, com aceleração, cabeça cheia de coisa, antecipação. E não sei... uma das coisas que mais me dá ansiedade é sim o básico, sabe? E creio que a maioria das pessoas devem sentir assim. O que é o básico que estou falando? Sobre como vai ser o amanhã, renda, emprego, futuro, relacionamento, país.

Sei lá. Não é só impressão minha. Estudos dizem, mas tá tudo muito cagado por ai. Volátil. Líquido. Incerto. No tempo dos meus pais muita coisa era ruim (e vivia por debaixo dos panos ao ser ruim) mas creio que não havia essa urgência em se viver.

E a urgência de viver é que nos quebra a cabeça. Na era da informação, do like, do fast tudo, do descartável, da bolsa de valores. É tudo uma hora assim, amanhã não pode ser mais. E ai? Como podemos ser seres humanamente sãos em meio de toda esta instabilidade ao se viver? Se urge viver, mas se urge viver dentro de um caos astronômico.

Quem lida bem com isso? Aqueles mais estáveis dentro dos seus empregos? Aqueles com laços afetivos mais seguros? Aqueles que nem tempo tem de pensar nisso?

Quem lida bem com isso? Um dia desses ouvi uma sábia falando que a maior lição que ela aprendeu na vida é que nada na vida é para sempre e seguro. Que aliás, a instabilidade e a imprevisibilidade da vida é a coisa mais bonita dela. Eu acredito. Porém como viver uma vida sã e apreciar essa condição sem sucumbir a um cérebro descompensado e a um corpo cansado como vivemos atualmente?

Eis o desafio.

Eu estou exausta e vou dormir.
Se um dia eu descobrir, eu lhe conto.