quarta-feira, 9 de agosto de 2023

Meias Argolas

Para quem vem de outras eras, este ano é 2023, início ainda do novo milênio, época da revolução da informação, da presença das desigualdades e dos corpos ansiosos. 

Uma das maiores praticidades dos últimos tempos foi a criação do que chamamos de delivery ou compra online. Na verdade, nem é tão novo assim, nos meus 30 e poucos anos, já deve fazer uns 15 ou 20 que isso acontece. Só que agora é com muita mais intensidade.

Uma espécie de "vou fazer compras" só que não saio de casa. Dentro de todo meu privilégio social, eu pego meu aparelho telefônico conectado à internet, pesquiso numa base de dados lojas que vendem o produto que quero, aperto uma série de botões e pronto. Ai fico acompanhando o status: o produto está sendo preparado, o produto foi enviado, o produto foi entregue. E, como um passe de mágica, um dinheiro que circula e a gente nem vê e uma logística absurda por trás, o produto chega na porta da minha casa, muitas vezes sem ninguém avisar. Abra-a e olho lá o meu produto envolto num plástico bolha, dentro de uma embalagem, cheio de adesivos pelos caminhos que percorreu e o seu rastreamento.

Por vezes, esse caminho é curto, vem do mesmo bairro que moro. Mas a maioria delas vem do outro lado do mundo, um país atualmente mega produtor de tudo chamado China. Deve ser bem interessante um shopping center na China. Ou será que eles também compram tudo online igual a gente? Quando o produto vem assim de longe, o prazo de entrega só Deus sabe. Umas compras chegam semana que vem, outras chegam 4 meses depois principalmente porque ficam presas na alfândega brasileira lá em Curitiba. Eles devem trabalhar muito lá em Curitiba com o brasileiro comprando. Ou talvez não trabalhem tanto e por isso que demora.

A questão é que a gente dessa era está muito mal acostumada. A gente, nós, os privilegiados como eu disse, que vivem comprando tudo assim sem ir a lugar nenhum. 

E como eu disse também, somos pessoas ansiosas. Então é o seguinte. Se é um produto simples como um artefato, uma matéria prima, um eletrodoméstico ou um eletrônico, a gente compra normalmente pra chegar amanhã, às vezes até pra hoje mesmo. Ontem mesmo comprei um instrumento musical e amanhã mesmo vai estar em casa. E ele vem de outro estado do país, olha só que maluquice.
O fato é que hoje acordei ansiosa, porque tenho um projeto a fazer no final de semana e, como estamos mal acostumados, fiz uma compra sexta-feira passada para chegar na segunda feira desta semana. Um prazo de 3 dias, de 2 dias úteis. Tava seguro. Eu estava fazendo com antecedência. Só que hoje já é quarta-feira e ainda não chegou. Perguntei no aplicativo online ao lojista o rastreamento e ele me disse que não havia rastreio ainda porque a transportadora não foi buscar o produto.

Me senti lesada e como se tivéssemos retrocedendo uns 7 anos. Reclamei que era para chegar segunda e ainda não resolveram meu problema. Meu projeto é pra daqui 3 dias. São pequenas meias argolas: "Eles não precisam de uma mega transportadora para isso!", diz minha voz interior indignada. Ora bolas.

Ai reflito que há várias soluções para este meu problema (como comprar inclusive outras argolas para chegar hoje e pedir o cancelamento dessas). E me acalmo. Outro delivery vai resolver.

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